Eu, particularmente, adoro o som e a vida dos pássaros. Costumo dormir com a janela aberta e escutar o som deles quando o dia amanhece, às vezes chega até a ser alto demais. Em um outro apartamento que morei, no Bairro Dores, via seguidamente um grupo de pássaros que passava de manhã em uma direção, e a tardinha “voltava”, em um movimento ritmado. Dava para notar que eles usavam as árvores da rua e dos terrenos para pousarem, descansarem, ou então se alimentarem, e depois seguiam viagem, como nômades que paravam a cada 500 m ou 1 km em um grupo de árvores. É impressionante como a Flora faz base para a Fauna.
Esse interesse na natureza dentro da cidade já vem de longa data. O meu Trabalho Final de Graduação foi no Parque Itaimbé, que fica na região central de Santa Maria. Durante as pesquisas para a realização do parque, fiz um levantamento de áreas verdes de Santa Maria, comparando à Porto Alegre, e no fim Santa Maria não fica perdendo tanto assim em áreas verdes para Porto Alegre, a grande diferença é onde esta área verde está localizada. Em Porto Alegre, a maior parte da área verde e vegetação arbórea está em parques públicos, áreas já consolidadas como áreas verdes, enquanto em Santa Maria as áreas de vegetação estão em sua maioria em terrenos privados, nos fundos de lotes ou terrenos ainda não ocupados por edifícios.
Na LP arquitetos já pegamos mais de um terreno para estudo de viabilidade de prédio nos quais a vegetação arbórea adulta é presente. Após as devidas licenças, essas árvores costumam ser removidas e a compensação é feita, geralmente, pagando e entregando mudas para o município, e a construção segue. Não acho que essa compensação não seja o suficiente, acho somente que entregar as mudas e achar que “está pago”, e que o município vai resolver de forma adequada, essa política de Pôncio Pilatos, não funciona mais. Acho que precisamos começar a compensar as retiradas de árvores no local mesmo e no seu entorno, utilizando os espaços verdes remanescentes do terreno, sejam eles fundo de lote ou ajardinamento, com vegetação, que além de capturar carbono, diminui ilhas de calor e favorece a fauna local.
Eu confesso que fico indignado com edifícios novos que não aproveitam a sua larga calçada para fazer canteiros e plantar árvores. Às vezes se gasta muito em paisagismo ornamental, decorativo, e pouco em arborização. Desde que aprovamos o Residencial Olavo Bilac, começamos a pensar nisso e deixar espaços para os canteiros, e aos poucos fomos escolhendo as árvores e plantando. Muitas vezes as mudas não vingam, ou o pessoal não quer plantar por causa da fiação, e não acho aceitável que por causa de fiação não se tenha árvores na cidade. Vamos trabalhar com poda, posicionar ela no ajardinamento, ou então escolher uma muda que se adapte melhor à fiação.
Neste mês de agosto de 2021 estamos finalizando o acompanhamento de dois projetos, o bau727 e o Residencial Vinicius de Moraes. Nos dois empreendimentos colocamos vegetação ornamental (moreias, palmeiras e outros), e plantamos árvores nos canteiros das calçadas. Foram dois Ipês Roxos no bau727 e tres Ipês Roxos no Vinicius de Moraes, árvores nativas e de grande porte, que esperamos que cresçam e ajudem na qualidade da ambiência urbana em frente aos edifícios.








Acho que só o canteiro é pouco, talvez o mínimo, e estamos estudando e convencendo os empreendedores a colocar árvores em outras áreas do lote. Dentro da legislação atual é exigido que se tenha 18% do terreno em área verde, sendo obrigatoriamente 9% de grama. Existem vários recuos laterais, fundos e frentes que tem só grama, e acho que poderíamos trazer árvores para eles. Aliás, acho que esse número de índice verde precisa ser reestudado. Imagina um edifício no centro e uma casa no pé do morro ter como obrigação e dever a mesma porcentagem do solo permeável. Acho pouco, mas ok os 9% de grama no centro, mas fora do centro poderia ser mais. Além disso, no centro precisamos exigir mais vegetação mesmo, não só grama, exigir árvores no passeio público, no ajardinamento e nos canteiros já existentes, além da luta pela requalificação das áreas livres públicas.
No entanto, nada disso vai mudar se não tivermos um pacto e combinarmos com a sociedade e empreendedores. Já falamos sobre como existe mas não são devidamente cobrados o Caminhe Legal e o Anuncie legal, e o que menos precisamos é mais uma exigência que ninguém faz e ninguém cobra.
Mas em um sonho, com essas áreas verdes exploradas com vegetação arbórea, transformaríamos a cidade em um espaço com um pouco mais de verde, de onde brotariam os prédios, no meio do verde, e não substituindo eles.
Diria um amigo meu, vamos dale?
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