Voltamos à (falta de) Iluminação pública

Comecei a frequentar uma academia perto de casa, são 400 metros, muito perto, e esses dias fui fazer exercício às 8:10 da noite, o que resultou em eu voltar para casa depois das 21 horas. Depois do primeiro dia que fui caminhando até a academia nesse horário, decidi que não irei mais a pé de noite. O principal problema é a sensação de insegurança no trecho que eu percorro, que além de ser mal iluminado, tem edificações com subutilização, calçadas inadequadas, e pouca vida na rua, uma lástima. Isso tudo no Bairro Nossa Senhora de Lourdes, um bairro central, imagina o que passam as pessoas longe do centro.

A iluminação pública no Brasil todo é meio ruim, e aqui em Santa Maria, onde temos todo o aparato urbano desenhado para a escala do carro, renegando as outras escalas, parece ainda pior. Além de parques e praças abandonadas, as calçadas são terríveis, os corredores de ônibus e ciclovias escassos e mínimos, e a iluminação pública acompanha essa política de investimento para o carro. Parece que estamos nos anos 60, achando que todo mundo vai conseguir se deslocar de carro para tudo. 

A Iluminação pública é fundamental para a segurança em geral, especialmente para o pedestre, e hoje aplicamos ela justamente onde circula o único meio que já tem sua luz própria, o carro! Assim, o poste é alto, virado para a rua, fugindo da escala do pedestre ou do ciclista, o que gera menos pessoas optando por circular a pé de noite, criando ainda mais insegurança. Claramente a substituição por led economiza, mas parece piorar a distribuição da luminosidade, uma vez que a iluminação parece mais focada. Precisamos remodelar a iluminação pública, seja com incentivos para os proprietários iluminarem suas calçadas, seja com a modernização de verdade da iluminação.

Incentivo aos proprietários:

Passando na Avenida Fernando Ferrari, percebe-se uma edificação que colocou iluminação no fechamento frontal do lote. Como a iluminação fica a cerca de 2 metros de altura, o efeito de segurança criado é tanto para quem mora na edificação, que tem uma visão melhor da frente do lote, como para quem passa na rua, que enxerga onde está caminhando. Esse tipo de atitude deveria ser incentivada, deveria ter até um tipo de desconto na CIP (Contribuição de Iluminação Pública). Já propusemos e fizemos parecido, iluminando a calçada em frente a uma obra da  CZ engenharia, com projeto da LP arquitetos, o Residencial Castro Alves. Talvez possamos ir além, e exigir que edificações que possuam marquise sobre a calçada, e edificações em geral sem recuo de jardim, tenham iluminação para o passeio público. Ou ainda uma legislação que incentive o uso de iluminação pública voltada ao pedestre nos fechamentos de lote de qualquer edificação, abarcando inclusive as com recuo de jardim. Claro que precisaríamos padronizar a iluminação, mas já seria uma melhora significativa para toda a cidade.

Modernização da iluminação pública

Isso não precisaria estudar muito, desde que estudei urbano na faculdade, há mais de 15 anos, já se falava em derivações nos postes existentes, com um pequeno poste para iluminação à altura do pedestre. Mas podíamos ir além, fazer com que nos espaços intermediários entre os postes existentes, tivéssemos iluminação mais baixa e para o pedestre. A distância que os postes têm hoje cria espaços de escuridão entre eles, com zonas de sombra que não são aceitáveis à segurança dos pedestres no período noturno. Além disso, podemos pensar em equipamentos urbanos como fonte de iluminação, as paradas de ônibus hoje não tem luz, e ainda fazem sombra para a iluminação alta vinda do poste, criando um espaço desagradável para quem espera o ônibus à noite. Outro ponto são as faixas de pedestres, precisam ter iluminação mais baixa que indique que é um ponto de travessia, que chame a atenção ao pedestre que está esperando para atravessar a via. A impressão que se tem é que o planejamento consiste apenas em economizar recurso e energia, e não em melhorar a iluminação e dar mais condição de caminhabilidade e segurança à cidade.

Da para notar que nem fui longe, sem muita “viagem” da para melhorar a iluminação pública.

A escuridão da cidade é um ciclo vicioso, que tira pessoas da rua, deixando-as ainda mais abandonadas. Mais uma vez precisamos que os planejadores e coordenadores de empresas de iluminação saiam dos carros e circulem pela cidade, a pé, de carro, ou ainda esperem ônibus em uma parada de ônibus, acho que só assim se darão por conta do quanto nossa iluminação pública é precária ao pedestre.

Escrito por

Gaúcho, Santa Mariense, Arquiteto e Urbanista que um dia foi anarquista.

2 comentários em “Voltamos à (falta de) Iluminação pública

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