As vezes a gente (arquitetos) passa por chato e cricri. De fato, algumas vezes, a gente implica com umas “bobagens” mesmo, mas faz parte da nossa formação crítica. Porém esse instinto de implicar, muitas vezes, tem um resultado positivo. É através da crítica que podemos melhorar nossos projetos ou resolver problemas. Tudo o que precisamos é ser crítico e perceber o espaço à nossa volta, lutar um pouco contra o hábito.
O ser humano é um bichinho bem adaptável, nos acostumamos com as burocracias, dores, rotinas, enfim, nos adaptamos a quase todas as situações de vida, até as ruins viram hábito. Esse é um ponto que os arquitetos e profissionais da economia criativa devem prestar atenção, pois muitas vezes o incômodo é o ponto de partida para criar uma melhoria. Quando digo incômodo, não é só algo que te incomoda perceptivelmente, as vezes é algo que você nem lembra que te incomoda mais. Mas você, como projetista, precisa prestar atenção a um detalhe do dia-a-dia e pensar, por que esse detalhe/elemento é assim, afinal ele precisa ser assim? Seria algo como “perceber”, um conceito abordado no TED do engenheiro e designer Tony Fadell (noticing).
Trazendo o debate para a arquitetura, lembrando que isto é meu ponto de vista, precisamos ser críticos e notar elementos e a relação entre os elementos e o usuário. É perceber, ao frequentar lugares, o que funciona, o que deixa o espaço convidativo ou confortável, além de perceber também o que não está funcionando ou poderia funcionar melhor.
Trazendo para o campo prático, procuramos fazer isso na LP arquitetos. Um exemplo são as esquadrias, onde buscamos questionar sua forma e dimensão dentro do projeto. Procuramos constantemente pensar: como o usuário terá uma melhor experiência com essa esquadria? E se for com 3 trilhos? E se for de 6 folhas? E se colocássemos uma esquadria maxim-ar superior para manter aberto em períodos de chuva, favorecendo ventilação higiênica? E se fosse com peitoril baixo? Buscamos pensar na melhor solução para a esquadria para o espaço, sem a reprodução de soluções automáticas.
Residencial Fernando Pessoa Esquadrias repensadas
Esquadrias repensadas
Esquadrias repensadas:
integração sala e sacada
Esquadrias repensadas:
integração sala e sacada
Integração sala, sacada e churrasqueiraEsquadria facilita o acesso à laje técnica (splits).
Questionar se é natural se pendurar para instalar esse equipamento e como podemos melhorar o design para a manutenção.
Outro exemplo é o guarda corpo de sacada. Chegamos à conclusão que a maior parte do guarda corpo precisa ser de vidro, não precisa ser todo, mas pelo menos a partir de 60 cm de altura. Isso aumenta o conforto visual, amplia a sensação de espaço da sacada e melhora as visuais de quem usa sacada, principalmente sentado. Muitas vezes volumetricamente o guarda corpo fica mais interessante “cheio”, de alvenaria, mas não estamos dispostos a sacrificar a experiência do usuário apenas para um melhor resultado formal. As esquadrias e guarda corpos são coisas simples, mas é necessário sentar, observar seus usos, pensar criticamente, “notar” e questionar, para finalmente definir o que será utilizado em cada projeto.
Esquadrias do Tom Jobim Tom Jobim visto de dentro
Tom Jobim visto de dentro
Esquadrias do solar das Oliveiras
Esquadrias do solar das OliveirasSolar das Oliveiras visto de dentro
Esse conceito da observação, ponderação e reflexão é amplamente usado no design, e no TED abaixo, Tony Fadell dá até dicas de como perceber e ser mais crítico aos projetos e objetos. Vale a pena dar uma conferida!
Um comentário em “As vezes é preciso ser um pouco chato.”