E os acessos dos edifícios?

Projeto arquitetônico de edifício não engloba só projetar o edifício e suas dependências, engloba também sua relação com a calçada e com a rua. Muitas vezes os empreendimentos imobiliários, por economia de recursos, não são entregues “completos”. Mobiliário de recepção e salão de festas nem sempre acompanham o edifício desde o princípio, bem como o acesso do mesmo, que por vezes não possui o fechamento ou tratamento de área livre adequado ao que os futuros moradores almejam. Acho totalmente compreensível, é uma decisão do incorporador, que resolve deixar essa gasto fora do cálculo e consequentemente do preço final dos apartamentos. Porém, tão logo os moradores começam a habitar o prédio, surgem necessidades decorrentes do próprio uso, algo mais difícil de ser previsto em projeto. As vezes até a cidade muda, lotes lindeiros podem ter usos trocados, a possibilidade de estacionamento na via pode ser alterada, questões que afetam diretamente na relação do edifício com a rua.

Os acessos

Este post está dedicado a discutir os acessos dos edifícios, a partir de projetos do escritório, desenvolvidos tanto em edifícios projetados pela LP Arquitetos, como outros edifícios os quais fomos chamados para intervir.

Alguns meses atrás finalizamos o acompanhamento da obra de um projeto nosso que modificou o acesso do Residencial Guilherme Cassel. Esse já é o quinto projeto do tipo que realizamos nos últimos anos, e isso nos conduz a um aprendizado que acabamos aplicando nos nosss projetos de edifícios multifamiliares, uma das nossas especialidades.

Residencial Villa Lobos, o primeiro projeto do tipo

O residencial Villa-lobos, localizado próximo à saída da garagem do shopping Royal Plaza, possui 9 pavimentos com 2 apartamentos em cada. A edificação foi entregue sem fechamento do lote, o que logo foi requisitado pelo síndico e novos moradores. Quando iniciamos o projeto, a opção foi manter a linha de acesso original, trabalhando o fechamento do lote com elementos de alvenaria intercalados com grades tubulares na vertical, dialogando com o desenho de piso da calçada. As grades na vertical criam ritmo e dificultam a escalada. Uma cobertura metálica e em vidro liga o acesso do edifício ao novo portão externo, recuado do alinhamento da calçada, protegendo quem espera na chuva e criando espaço para as caixas de correspondências, sem interferência no passeio público.

Residencial Olavo Bilac – modificando projeto nosso

O residencial Olavo Bilac foi nosso primeiro projeto de edifício multifamiliar, no qual foi previsto um portão de acesso e um espaço destinado a guarita, para portaria, mas por redução de custo não foram feitos os fechamentos do lote. Fomos chamados para modificar o acesso pelo primeiro síndico do prédio. A ideia era ampliar o pátio e criar um espaço de segurança, colocando um segundo portão nos dois acessos de garagem e no acesso de pedestres. A opção de fechamento foi o vidro, que da mais transparência e leveza no visual. Novamente, um recuo com cobertura e espaço para as caixas de correspondências foi criado. Veja o edifício pronto no nosso site.

Residencial Vilaró – acrescentando uso

No residencial Vilaró, edificação de 8 pavimentos com 25 apartamentos, o projeto de modificar o acesso foi debatido e o projeto construído junto com o condomínio e o síndico. A decisão foi mais radical, o edifício possuía dois acessos de pedestres, um através de uma rampa com acessibilidade e o outro, mais direto, através de uma escada. A ideia foi isolar o acesso que possuía escada e valorizar o acesso pela rampa, um pouco deslocado do centro do lote. Isso foi feito para criar um pátio, cercado de vidro, junto ao passeio, aproveitando uma área gramada que existia e não era utilizada anteriormente. Assim, a própria escada que dava acesso ao prédio anteriormente, hoje dá acesso ao pequeno pátio com bancos. 

Residencial Monteiro Lobato

O Residencial Monteiro Lobato também foi projetado pela LP arquitetos, e possui 38 apartamentos, distribuídos em 15 pavimentos acima do solo. O empreendimento não previa execução do fechamento do lote, porém o projeto do mesmo foi elaborado por nós, facilitando a execução pelo condomínio posteriormente. Porém, durante as reuniões de condomínio, foi requisitado um estudo para fechar toda a frente do prédio (o projeto original previa apenas um fechamento parcial). Assim, a exemplo do Vilaró, foi criado um espaço de estar com grama, acessado através do patamar da rampa. O espaço, apesar de pequeno, mostrou-se bastante útil com o tempo.

Guilherme Cassel, plasticidade para marcar o acesso.

No residencial Guilherme Cassel, a ideia central era dar proteção para a chuva, desde o portão de acesso da calçada até o prédio, e atualizar e marcar visualmente o acesso, que, por relato dos moradores, muitas vezes não era percebido como acesso da edificação. Um dos pontos principais para criar a identificação do acesso foi recuar o fechamento do lote, deslocando ele do alinhamento da edificação vizinha. Outra estratégia foi propor um revestimento semelhante ao utilizado no prédio (um revestimento 20 cm x 20 cm preto), a partir da utilização de um porcelanato Eliane preto polido 60 cm x 60 cm. Esse revestimento foi utilizado de maneira modular e semelhante aos existentes na edificação, criando relação visual entre edificação e acesso. Para completar, a cobertura e fechamento de vidro dão transparência, leveza e contemporaneidade ao acesso. No fim, o projeto cria uma passarela para o transeunte acessar a edificação, ladeada por um ambiente de estar.

Aprendizados  para os nossos projetos de edifícios

Essas experiência de projeto têm sido levadas para os nossos projetos de edifícios. Hoje já deixamos projeto de fechamento de lote pronto para ser executado pelos futuros moradores, ou ainda viabilizamos uma maneira mais barata (junto com o incorporador) de já fechar o lote antes da entrega do empreendimento. Foi o caso do Residencial Solar das Oliveiras, entregue fechado, mesmo com a edificação em um terreno de esquina (o custo é mais alto devido à grande testada). O fechamento cria um pátio, protege o salão de festas e a rampa de acesso, sem interferir no fechamento dos portões de acesso às garagens, parte mais onerosa, devido aos portões. Aproveitamos e já deixamos separados também os medidores de energia e central de gás, não necessitando assim que prestadores de serviço entrem no pátio. 

O mesmo ocorreu com o Residencial Fernando Pessoa, edifício recém finalizado e projetado pela LP arquitetos. Nele foi projetado e executado um fechamento reduzido, com alvenaria e vidro, que definiu o pátio, um ambiente de espera e um bolsão de segurança para os moradores. O Residencial Fernando Pessoa ainda tem o fechamento recuado, entregando um pouco mais de espaço para a rua, criando tanto um jardim interno quanto externo.

No fim as intervenções realizadas em condomínio, obras prontas, foram e ainda são fundamentais para entendermos como podemos melhorar nossos projetos e a relação da edificação e dos moradores com a rua e a vizinhança. No meu entendimento, é isso que o projetista deve fazer, ficar constantemente questionando o cotidiano, o usual,  em busca de melhorias para os projetos e para a sociedade.

Escrito por

Gaúcho, Santa Mariense, Arquiteto e Urbanista que um dia foi anarquista.

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