O movimento moderno rompeu barreiras, buscou quebrar com o simbolismo e trouxe uma nova interpretação para as artes. Na arquitetura, em partes a ideia foi atualizar o projeto e a expressão à era das máquinas e ditar um novo rumo para a arquitetura. É claro que o movimento exige uma análise e um estudo muito mais profundo, o que eu não estou qualificado a fazê-lo. O que quero levar de referência do assunto é o rompimento com o tradicional, com os símbolos, algo que já vinha sendo alinhado desde o art déco.


Refleti sobre isso depois de uma leitura minha, mas vou explicar. Ainda em 2020 terminei a leitura do livro “Aprendendo com Las Vegas”, de Robert Venturi, Denise Scott Brown e Steven Izenour, no qual os profissionais analisam Las Vegas e a Strip (rua principal da cidade). Vale lembrar que o livro foi publicado originalmente em 1977, e hoje possui uma edição revisada, à qual tive acesso. Em um determinado momento os autores abordam o conceito de elementos como ícones de arquitetura, onde os profissionais falam sobre dois tipos de arquitetura envolvendo ícones: o “Galpão decorado” e o “Pato”.
No livro as definições, descritas na página 118 são:
- Quando os sistemas arquitetônicos de espaço, estrutura e programa são submersos e distorcidos por uma forma simbólica global, chamamos esse tipo de edifício, que se converte em escultura, de pato, em homenagem ao “Patinho de Long Island”, Avícola em Forma de Pato, ilustrado por Peter Blake em seu livro God’s Own Junkyard.
- E damos o nome de galpão decorado ao tipo de edifício cujos sistemas de espaço e estrutura estão diretamente a serviço do programa, e o ornamento se aplica sobre estes com independência.
Em suma, um tipo de edificação é um ícone, não possui símbolos, mas é o próprio símbolo, enquanto a outra é uma edificação funcional, resultado do programa de necessidades, com elementos que fazem a ornamentação da edificação, decoram. Essa análise toda é feita dentro do contexto do livro, e se estende por um longo capítulo, exemplificando e comparando edificações. Isso tudo me fez pensar no contexto atual da arquitetura.
O serviço de arquitetura mudou bastante nas últimas décadas, com o aumento no número de arquitetos, e a mudança da prancheta para o desenho digital. Os escritórios diminuíram de tamanho, e muitas vezes um arquiteto sozinho ou com uma equipe muito reduzida consegue fazer projetos relativamente grandes. Assim como em quase todos os serviços da atualidade, a agilidade na entrega, e consequentemente em projetar, precisa ser grande, o que pode influenciar na qualidade do resultado final do projeto e da edificação.
Dentro disto, acredito que atualmente a arquitetura mais corriqueira está mais alinhada com o galpão decorado do que com o pato. Tenho observado muitos projetos em que a funcionalidade, o melhor aproveitamento de índices, a economia na engenharia, tem ditado o projeto. Parece que depois dessas questões resolvidas, o volume é um mero resultado, e passa-se à “decoração”, com soluções formais que tentam melhorar um pouco a aparência do projeto. A “decoração” contemporânea não é com elementos como os da strip em Las Vegas (com neon e placas publicitárias), mas acabam sendo utilizados muitos dos elementos arquitetônicos marcantes na arquitetura moderna. São pórticos, pergolados, brises, marquises, entre outros elementos, que acabam deixando os projetos muitas vezes mais carregados, e acabam se assemelhando a uma colagem de elementos. Digo assemelhando pois é muito difícil entender todo o complexo processo que o projetista fez para chegar ao resultado final, são muitos condicionantes que influenciam nas decisões arquitetônicas, e às vezes podemos só não ter entendido como o arquiteto resolveu determinado projeto.
Não vou colocar exemplos aqui, mas basta buscar projetos no google. Caso queira ver, clique aqui para residências, ou aqui para edifícios.
Dentro da LP arquitetos, cada vez mais buscamos significado, o que não quer dizer que não tenhamos usado artifícios meramente estéticos e decorativos. É através de uma reflexão como esta, que seguidamente resultam em discussões aqui dentro do escritório, que podemos evoluir. Questionamos sobre o que é ser/fazer diferente só pela diferença, o que é um uso gratuito de determinado elemento, e como podemos fazer para que o projeto seja adequado para o usuário, além de como o projeto pode refletir a sua solução, ao invés de mascarar ela.


Acho que o que nos alinhamos é a clareza, transparência(no sentido de honestidade), e experiência do usuário. Já falamos sobre isso aqui no blog. Um exemplo é a Residência GJAB, onde o telhado, aparente e inclinado, é refletido dentro da casa e cria espaços com pé direito variável e um mezanino “esconderijo” entre os dormitórios das duas irmãs. Outro exemplo é a repetida fachada nordeste do Residencial Fernando Pessoa, onde a grelha de janelas refletem o que a fachada, uma sequência de dormitórios dos apartamentos. Ás vezes essa “pureza”, esse branco, acaba incomodando alguns projetistas, que por fim optam por “decorar”e a fachada, o que por vezes desqualifica a arquitetura resultante.



Um projeto que vale a pena analisar é o Edifício VN Ferreira Lobo, projetado pelo Studio Arthur Casas, onde o projeto é de dentro para fora, e a variação de esquadrias no puro volume branco é reflexo de diversos apartamentos organizados modularmente ao redor da circulação vertical.
Gosto quando os projetos possuem dinamismo, mas no fundo acho que o dinamismo precisa partir da solução do projeto, e não ser só uma maneira de disfarçar o não dinamismo interno. É claro que isso tudo é a minha opinião, no que eu, Guilherme Schneider, acredito neste momento.
Mais sobre o período eclético no Brasil aqui!