No final de Fevereiro e no começo de Março, em férias por São Paulo, o arquiteto Guilherme Schneider visitou, junto com a arquiteta Renata Zampieri, professora da UFSM/CS, e outros colegas, a cidade de São Luiz do Paraitinga. São Luiz do Paraitinga é um município de cerca de 10 mil habitantes, que fica localizado no Vale do Paraíba, a cerca de 60 km de São José dos Campos. O principal atrativo da cidade é o seu centro histórico (configurado por quase toda a área urbana), tombado como Patrimônio Cultural Nacional, o qual é composto de edificações feitas de pau-a-pique ou de taipa de pilão, construídas ainda no século XIX.
A cidade é um charme, lembra um pouco Ouro Preto e Paraty, com ruas pequenas, calçamento em pedra, e um conjunto de edificações coladas umas às outras, que configuram as calçadas e as ruas, as quais são coloridas pelas edificações que as circundam. A cidade ainda possui algumas igrejas, a praça com coreto e até um mercado público com pátio central, próximo ao rio, além do Museu São Luiz do Paraitinga, localizado na Casa Oswaldo Cruz, local onde o médico sanitarista passou a sua infância. O conjunto de mais de 450 edificações é patrimônio tombado pelo IPHAN, e atualmente servem de abrigo para comércio, bar, restaurantes, serviços em geral e até mesmo residências. É ótimo ver o patrimônio sendo utilizado!
O fato que marcou a cidade nos últimos anos é que, em 2010, literalmente isso tudo (ou boa parte) foi abaixo, quando uma enchente sem precedentes tomou conta da cidade. As casas, quase todas de pau-a-pique, tiveram o preenchimento das paredes levados pelas águas,ficando somente a estrutura de madeira e as esquadrias para contar a história. O pior foi a Igreja Matriz, construída toda pelo método taipa de pilão, que “derreteu” por inteira, restando apenas um pedaço de uma torre e algumas estruturas das base.
Aqui um vídeo sobre a tragédia e o trabalho técnico.
Assim que a água baixou, o Governo de São Paulo disponibilizou recursos para reconstrução da cidade, tal qual ela era. O projeto da igreja é o que mais chama a atenção, apesar de ser praticamente igual ao que era antes por fora (volumetria, cores, aberturas e ornamentos), ela foi reconstruída com técnicas e materiais novos, com uma estrutura totalmente nova. No interior da Igreja está preservado o que sobrou da estrutura antiga, além de explicações de como eles conseguiram recriar os ornamentos, uma verdadeira aula de técnicas de restauro. É impressionante ver como era o método construtivo e as larguras das paredes que eram necessárias para erguer uma igreja daquele tamanho.
Vale a pena a visita, conhecer essa obra de restauro e presenciar as poucas casas que ainda não foram restauradas, que retratam muito bem o método construtivo utilizado na época. E se você curte carnaval de rua, o de lá é famoso, os milhares de foliões percorrem a cidade, que parece ter sido construída para a vida na rua.