Uma das maneiras da qual eu mais me desloco pela cidade é caminhando, vou ao escritório, à academia, ao mercado e a outros locais a pé. As vezes mudo meu caminho para poder ver a cidade de outros ângulos. Gosto de perceber ela mudando, residências virando espaços comerciais, lojas abrindo ou fechando, e edifícios sendo construídos. Tenho uma certa paixão por edificações em altura, algo que trabalho e estudo bastante, buscando aprimorar o resultado dentro da LP arquitetos.
Assim, procuro saber os nomes dos prédios, conjuntos e condomínios, além de observar como são os apartamentos, as áreas comuns e a relação com a rua/calçada. Faço uma espécie de análise destes itens, buscando aprender com as soluções que outros projetistas utilizaram. Esses dias, passeando pelo Parque Itaimbé, notei que o Edifício São Lorenzo, que fica na Rua Tuiuti, ao lado do Parque Itaimbé, estava sendo pintado. O edifício San Lorenzo é um edifício de 12 pavimentos com um projeto diferenciado, ele possui uma modulação variável na parte dos dormitórios (o que dá movimento na fachada e cria sacadas em uns pavimentos e beirais em outros), brises nas áreas de serviço, coberturas escalonadas e um acesso recuado, assemelhando-se a um espaço com pilotis. A edificação foi construída pela Barcelos Engenharia entre o final da década de 80 e o começo da década de 90.
Mas talvez o que mais chame atenção, ou até então chamava a atenção no San Lorenzo era a sua cor, ou melhor a sua combinação de cores. A combinação entre rosa, verde e branco é digna de um integrante da Estação Primeira de Mangueira. Naquela caminhada, percebi não só que ele estava sendo pintado, como também que as cores estavam mudando, para tons de cinza, tons mais sóbrios.
No começo foi um choque, como assim? Mas no fim tem que se entender, o condomínio decide, e eles são os que mais convivem com as cores. Talvez também o condomínio só esteja alinhando as cores do San Lorenzo com a cidade e os novos edifícios, que têm usado tons mais sóbrios. Claro que é uma análise empírica, mas vários edifícios antigos e com elementos em cerâmica ou cores vivas foram um a um mudando suas tonalidades. Dentre esses casos podemos notar o Edifício Taperinha, pintado a mais ou menos uns 6 ou 8 anos, o Edifício São lucas, também pintado a menos de 5 anos, o hotel Itaimbé, entre outros.
No meio dessa reflexão, pensei se a cor que estava antes, as “cores da Mangueira”, eram as originais, do final da obra. Para buscar sanar essa dúvida fui até o arquivo municipal, e busquei o projeto aprovado. Tinha pouca esperança de ver algo colorido, mas para minha grata surpresa, nas fachadas estavam indicadas as cores à serem usadas.
A As cores não eram de fato exatamente iguais, mas o rosa estava nos volumes avançados e intercalados, o branco e o cinza estavam presentes também. Porém na fachada indicava um vinho no volume com brises, bem com o rosa extrapolava os volumes dos dormitórios.
Para tirar a dúvida, se por acaso algum dia ele tinha sido pintado assim, resolvi conversar com uma moradora do prédio, a Lucienne, que coincidentemente é arquiteta e foi minha professora na Universidade Federal de Santa Maria. Ela comentou que a edificação, desde que ela mora ali, já tinha essas cores (verde, branco e rosa), o que me leva a crer que de fato o cinza e o vinho nunca tenham ido para as paredes do San Lorenzo. Para finalizar a brincadeira, resolvi mexer em uma foto do Edifício, simulando as cores que o projeto aprovado sugeria, uma espécie de resgate da cor projetada.

Por fim, fico pensando se os tons sóbrios serão uma marca dos edifícios da produção dessa década, ou repintados nesses anos, e se no futuro vamos ter uma retomada das cores deixadas para trás. Ainda em tempo, será que como arquitetos, desaprendemos a lidar com as cores? Talvez falte estudarmos e nos aprofundarmos um pouco mais em mestres como Johannes Itten, Paul Klee, Kandinsky e tantos outros. A cor, no fim, parece só um detalhe, mas impacta não só no edifício, mas também no panorama urbano.
Adorei tua percepção sobre toda a trajetória da pintura do edifício até mesmo a simulação que fizestes (não era uma boa combinação, na minha opinião).
Vamos ver como fica o resultado final da pintura, depois deixa tua impressão novamente!
Abraços, Guilherme.
Opa, obrigado pelo comentário Marcos. Acho que a cores do projeto eram complicadas mesmo, bem fortes.
Deve ser uma difícil decidir as cores em um condomínio, mas pode deixar que quando ficar pronto volto ali observar.
Acho que ta ficando alinhado mesmo, o taperinha já até me acostumei com o verde musgo.
Além disso, cores com menor saturação tendem a desbotar menos e durar mais, então é sensato pintar assim.
Abraços